Catedral de Santa Maria, RS: 100 Anos de história, arte e fé
Sinopse
Esta obra, em seu propósito, apresenta, a partir de um estudo de profissionais de reconhecido saber, uma descrição da arquitetura e da arte da Catedral Diocesana da cidade de Santa Maria, RS. Porém, mais do que resultado de um trabalho, esta respeitável equipe, conhecedora da importância e do significado real e simbólico desse templo religioso para a comunidade santa-mariense, presta valiosa contribuição para compreendê-lo e apreciá-lo como patrimônio religioso-cultural de nossa cidade.
Evidenciar o valor simbólico e patrimonial da arquitetura e da arte desta Catedral Diocesana é uma forma de ampliar o imaginário e de reconhecer valores religioso-culturais locais. Explicitar o sentido religioso da arte desse templo contribui para tornar as pessoas mais sensíveis à percepção do cotidiano, melhorar-lhes a autoestima e valorizar o sentido do viver nesta cidade e com as pessoas da cidade.
Historicamente, a humanidade, em todas as culturas e lugares, desenvolveu e cultivou, desde o espaço doméstico, o sentido do sagrado e o culto à divindade. Com o crescimento populacional, ao dar origem a povoados, vilas e cidades, as pessoas se agregaram também na expressão religiosa e no culto. A construção de templos evidencia, em todas as aglomerações humanas, a busca de proteção no ser superior e do sentido mais pleno para a integralidade da vida e o bem-estar. Os templos, situados em locais de destaque, estabeleciam, pela rede de caminhos e de ruas que deles partiam ou para eles se encaminhavam, uma ligação de energia mística.
Nos dias atuais, a cidade é permeada por tendências diversas. Seu espaço é disputado por todos que querem fazer passar qualquer mensagem comercial, ideológica, religiosa. As realidades desenvolveram evidências múltiplas também na questão religiosa. De um lado, interferem no cotidiano das pessoas, envolvendo-as numa rotina de atividades sem controle. De outro, as pessoas buscam manter o direcionamento de suas vidas e valorizar o cotidiano. O imponente espaço sagrado das igrejas nas cidades se confunde em meio aos edifícios. Torna-se um entre tantos outros espaços. A cidade criou nova sensibilidade em relação à religiosidade e à religião. A pluralidade cultural criou lugar para diferentes constantes antropológicos e teológicos. Nesse contexto, a religião deve agir positivamente, procurando responder à nova sensibilidade da sociedade.
Boff, em seu livro, Espiritualidade, um caminho de transformação (2001), refere que as religiões elaboram constructos teóricos – as doutrinas; práticos – a moral; festivos e simbólicos – as liturgias e os ritos. Sabe-se que a música sacra e as artes plásticas expressam sentimentos e beleza, contribuição essencial para a completude da vida humana. Assim, as religiões buscam expressar, por meio da materialização dos templos e da arte, o transcendente. Por isso, são um valor inestimável para a humanidade.
Embora a construção de belíssimos templos e catedrais, verdadeiras obras de arte, essa materialização é apenas uma necessidade humana, pois a grandiosidade de Deus não cabe no estreito espaço de um templo, em uma religião e nem caberia no somatório de todas as religiões, pois as religiões elevam ao transcendente, são caminhos que ajudam a espiritualidade e aproximam a pessoa do mistério de Deus, mas não são o espiritual.
A religião tem a missão de humanizar a cidade, criando uma rede de comunicação, de relações e de valores espirituais e sociais, contrapondo o individualismo e a solidão, tão característicos das pessoas nos dias atuais.
Aí encontra-se o ponto fundamental do cristianismo: a pessoa não é uma ideia, mas uma existência real, um ser histórico que tem seu ponto de referência no fato histórico de Jesus Cristo, revelação do Mistério, de absoluta verdade e dom de si. A pessoa humana é sagrada, é a morada de Deus. O templo do Espírito Santo. Religião, espiritualidade e fé formam um campo semântico de valor essencial para o ser humano em sua busca de sentido da vida, de encontro com sua realidade pessoal e com a realidade maior do mistério de Deus. O ser humano, lugar habitado pela divindade, é dotado de compulsiva atração pelo sentimento de transcendência e a espiritualidade o impulsiona ao sabor estético. Para isso, toma emprestado o silêncio, a música, a imagem, as letras, as cores que expressam o sentido do existir e colaboram para a experiência de tocar o Mistério Absoluto.
Ao cumprimentar os autores por esta bela obra colocada à disposição dos leitores, externo o desejo de que o contato com o texto literário e a compreensão artística renove a sensibilidade ao sagrado presente em cada pessoa, que a Catedral Diocesana da cidade de Santa Maria continue a ser lugar sagrado de inspiração e cumpra sua missão de iluminar a todos com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja.
Iraní Rupolo
Reitora do Centro Universitário Franciscano